7 de nov. de 2008


"... Aqui no Brasil, nós somos alegres mas nós não somos felizes. Existe toda uma melancolia e uma saudade que a gente herdou dos portugueses e que a gente ainda nem começou a resolver. A gente não sabe o que é esse nosso país. (...)"



Sociologicamente pode ser por ai mesmo. Claro que sem contar os aspectos sociais problemáticos como pobreza, preconceitos, e tudo isso que todo mundo vê e finge que não vê. E os que não fingem que não vêem, falam sobre, apenas. Estava lendo uns e-mails e cartas mandadas para uma amiga há um tempo, mas que eu também ainda tenho comigo. Não havia uma em que eu não estivesse me lamentando por algo, ora perdido, ora nunca presente. Não sei se acontece com todos, mas há uma nostalgia, uma saudade, uma dó, um nó, na verdade, um "quê" que eu não sei explicar o que é, só sei que o sinto. Ontem, durante a tempestade que se formava, fiquei alguns instantes de pé na porta, olhando para o céu, sentindo o vento forte, olhando também para a amendoeira que se balançava freneticamente, embalada pelo som das outras árvores, que assim como ela dançavam com o vento. Um espetáculo sem igual. E eu fiquei me lembrando quantas e quantas vezes, quando ainda menina, eu olhava e contemplava aquele mesmo espetáculo. Olhava quase que com o coração. E der repente eu podia ver muito mais do que eu via em todos os dias da minha vida. Dias corridos, vividos meio que sem querer. Meio que sem querer saber que estavam sendo vividos e que acabariam logo. Assim como aquela chuva que chegaria a minutos, nos forçando a fechar as janelas da casa para evitar que as folhas continuassem a cair no chão e nos móveis. Assim como aquela chuva forte, presente ali quase que por um milagre. Eu parei, antes que ela pudesse me alcançar e pensei comigo mesma, que chegaria uma hora em que eu não a sentiria mais. Não ouviria mais o som do vento que ela trouxe com ela, não sentiria mais aquele frio gostoso, quase convidativo a dançar. Eu pensei que nessa hora não haveria mais dor, de fato. Mas também não haveria mais calor. E apesar de toda degradação que sofreria meu corpo, o meu pensamento há muito já haveria perecido. E eu não viria mais o olhar da minha avó, nem as broncas da minha mãe. Jamais deitaria novamente a cabeça no travesseiro e choraria pelo dia que não me veio.


[continua mais tarde]
...e encaixavam-se ambas como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.

2 comentários:

Camila Wu disse...

Eu sinto isso tudo não só na tempestade, mas quando escuto "The Smiths"...ontem, enquanto vc olhava pela janela apressiando, eu vinha do colégio naquele quase temporal e senti em mim a parte não tão bonita da chuva ! Imagine se um dia eu não acordar...

Rodrigo Costa disse...

Desde q eu entrei na pré adolescencia até os dias de hoje (ou seja, quando comecei ser abalado pelos meus sentimentos) sinto uma melancolia. Nos ultimos dias ela tem estado mais forte, mas isso sempre acontece de vez em quando ela aparecer com tudo e depois me dar um treguá. Mas a sensação de q estou perdendo algo é constante. Quem me conhece superficialmente, acha q eu tô mentindo, afinal eu sou um cara super brincalhão e tal. É apenas uma maneira de esquecer essa coisa toda. Mas quando eu tô sozinho, não tenho pra onde correr. Acho q todos nós somos assim, bem ou mal. É o tempo q vai embora por nossos dedos... Somos pereciveis.